sábado, 26 de fevereiro de 2011

HISTÓRIA DA MARCHINHA DE CARNAVAL

Mais até do que o samba-enredo, a marcha é reconhecida como a música de carnaval no Brasil. No seu período áureo, que se estendeu dos anos 20 aos anos 60, ela foi a responsável por algumas das canções mais populares do país (até mesmo nas décadas seguintes), reunindo no seu time de compositores alguns dos mais importantes nomes da música popular. De Chiquinha Gonzaga (que escreveu para o cordão Rosa de Ouro em 1899 a marchinha inaugural, Ô Abre Alas, também a primeira música a ser feita especialmente para o carnaval) a Moraes Moreira (que fez com Fausto Nilo a Coisa Acesa, já na década de 80), passando por Noel Rosa, João de Barro, Ary Barroso, Lamartine Babo e Mário Lago, muitos foram os que se esmeraram ano após ano para serem os autores da música que o público passaria os quatro dias de folia cantando.

Com o compasso binário da marcha militar, andamento acelerado (mais ainda a partir da metade do século XX, por causa da influência das big bands de jazz), melodias simples e alegres (para grudar nos ouvidos com facilidade) e letras com boa dose de picardia (não raro valendo-se do duplo sentido), as marchinhas guardam um espírito tipicamente carioca, tendo funcionado muitas vezes como uma crônica musical da cidade. Até 1920, quando Sinhô chegou com O Pé de Anjo, boa parte das marchinhas era importada. Entre as mais notórias, as portuguesas Vassourinha, muito cantada no carnaval de 1912, e A Baratinha, de Mário São João Rebelo, sucesso em 1917. A produção nacional deslancharia com composições de Eduardo Souto (de Eu Quero É Beliscar, Goiabada, Só Teu Amor, Não Sei Dizê, Pai Adão), Freire Júnior (Ai, Amor) e Sinhô (Fala Baixo, Não Quero Mais, Sai da Raia).

Época de ouro A marchinha reinou na música brasileira a partir da década de 30, nas vozes de Carmen Miranda, Almirante, Mário Reis, Dalva de Oliveira, Silvio Caldas, Jorge Veiga e Black-Out. Entre confete, lança-perfume e serpentina, eram eles quem entoavam as composições de João de Barro, o Braguinha (autor, junto com Alberto Ribeiro, de algumas das mais célebres marchinhas, como Chiquita Bacana, Yes! Nós Temos Bananas e Touradas em Madri), Noel Rosa (o poeta da Vila é co-autor de Pierrô Apaixonado), Ary Barroso (Eu Dei) e Lamartine Babo (Linda Morena).

Na entrada dos anos 60, a popularização dos desfiles de carnaval marcou o início da ascensão do samba-enredo e o declínio da marchinha e dos blocos. José Roberto Kelly foi um dos últimos compositores que brilharam no gênero, com Cabeleira do Zezé e Mulata Iê-Iê-Iê. Após o AI-5, quando a censura se instalou de vez (nada contente com a malícia das letras), a marchinha passou a ser objeto de iniciativas isoladas, como as de Caetano Veloso (Samba, Suor e Cerveja) e Chico Buarque (O Boi Voador). Composição da dupla João de Barro-Alberto Ribeiro, lançada sem sucesso em 1937, Balancê tornou-se, em 1980, uma das músicas mais tocadas do ano, na voz de Gal Costa – e foi este o último suspiro da marchinha.

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